Há muitos enganos a respeito do que é o Culto Tradicional Yorubá. Alguns acreditam que seja apenas o Culto a Ifá, outros acreditam que é uma nova invenção africana. 

Vamos lá, não é nada disso. 

No Culto Tradicional também cultuamos Orunmilá, mais conhecido como Ifá, o Orixá do destino, aquele que conhece o destino de todos os seres criados por Eledumare. A testemunha da criação de Deus.. 

É a Orunmilá que consultamos ao abrir o jogo de búzios. É a ele que devemos perguntar quando temos alguma dúvida a respeito do melhor caminho a seguir. Segundo os itans, histórias de sabedoria de ifá, em tempos remotos, os orixás também consultavam Ifá. 

Existe um culto estruturado para Orunmilá conhecido como Culto à Ifá. Possui uma liturgia própria e apresenta  variações regionais dentro da própria África. Durante a primeira diáspora, os sacerdotes de Ifá, conhecido como Bàbàláwo, foram levados para as Américas onde espalharam o Culto para além-mar. Migraram poucos sacerdotes de Ifá para o Brasil e o Culto não ficou tão popular em nossas terras quanto o Culto aos orixás iorubanos que deram origem ao Candomblé. 

Muitos sacerdotes de Ifá foram para a região central da América e lá o Culto à Ifá manteve-se mais forte, mesmo se misturando às outras religiosidades nativas e dos colonos, sua filosofia e prática foram preservadas. 

Aqui no Brasil, o Culto aos Orixás foi se adaptando e recebendo grandes pitadas da religiosidade cristã, das tradições dos nossos índios, bem como, dos vários povos africanos oprimidos na senzala que conviviam e procuravam manter a sua fé para  sobreviver., 

Conhecimentos filosóficos oriundos de Ifá que norteavam o Culto aos orixás, se perderam e uma nova religiosidade com características próprias resultantes dessa miscelânea  genuinamente brasileira, surgiu: O Candomblé Keto.

Quando falamos do Culto Tradicional Yorubá, estamos falando de um culto que não é aquele que migrou durante a escravidão, pois como toda cultura, houve uma adaptação inerente à dinâmica do tempo. Essas adaptações são necessárias para manter qualquer prática social viva, pois já não é possível manter alguns aspectos de antigamente, sendo o  mais relevante, o  tempo de dedicação à prática religiosa. 

Orunmilá tem um papel fundamental no Culto Tradicional, pois é ele quem nos orienta quando precisamos ajustar o nosso destino. Além de Orunmila, cultuamos outros Orixás do panteão yorubano, além daqueles que migraram para o Brasil na primeira Diáspora. Nosso culto é aos Orixás, inclusive à Orunmilá. 

Muito axé à todos!

Ìyá Aṣabi

A palavra axé está muito presente em nossa cultura. É cantada em músicas, proclamada em versos e desejada para muitos. Mas o que significa a palavra axé?

O axé, muito mais que um ritmo musical, ou de desejos de tudo de bom para uma pessoa, trata-se de um conceito fundamentado na filosofia de um grupo étnico africano chamado yorubás.

Os yorubás compõem, juntamente com outros, o grande grupo de africanos que foram trazidos da região onde hoje temos a Nigéria para o Brasil, no período da escravidão, e que contribuíram fortemente para formar a nossa identidade. Foi a partir do seu conjunto de crenças que se formou o candomblé Keto , pois a milhares de anos eles  já cultuavam as forças da natureza através dos orixás. 

Infelizmente a filosofia por trás do culto não foi tão propagada em terras brasileiras quanto os mitos dos orixás. Os yorubanos não tinham leis escritas para organizar sua sociedade, tudo era baseado nos mitos presentes nos itans de Ifá onde se extraia as normas, a ética e os valores que auxiliavam a resolução dos problemas e promovia uma vida social harmoniosa. Podemos ilustrar claramente através do conceito de axé. 

Axé significa muito mais do que poder e energia, está além das palavras "que assim seja", pois para ser validada tem que haver coerência comportamental. É preciso ser coerente para desejar e mover o axé em direção a algo ou alguém. 

Vamos entender melhor...

O axé está dentro de cada um de nós e de todas as coisas criadas por Deus - Eledumare (o senhor da criação), é o que nos conecta e forma um contínuo de energia que está o tempo todo criando e mantendo a criação. 

Poderíamos dizer que o axé é a matriz divina que foi recentemente estudada e descoberta pelos pesquisadores da física quântica, é o elo que nos conecta a Deus e suas criaturas. 

Quando falamos a palavra axé, emitimos em direção a algo ou alguém uma porção desta energia. Para que isso aconteça é preciso que haja a intenção pura e autêntica, é preciso de fato querer o bem a alguém ou querer algo intensamente. Nossas emoções precisam estar coerentes com o que desejamos.

Ter uma vida coerente é um grande desafio, requer a constante vigília do nosso comportamento e a busca do nosso ÌWÀ – Bom Caráter. É preciso conectar os nossos valores com as nossas ações, não é suficiente acreditar que você é bom, é preciso ser bom em suas ações. A bondade não pode ser expressada de forma seletiva conforme os nossos interesses exclusivos, é preciso ser bom de formar geral, comprometendo-se com o bem social.  

Não podemos ser bons em nossas ações e ruins com nossas línguas, é preciso ser bom, em nas ações, em nosso falar, com todas as pessoas e conosco também. Essa coerência nos conectar a matriz divina, ou melhor, ao axé coletivo, tornando possível nossas realizações pessoais e coletivas. Desta forma nos tornamos produtores e receptores de axé. 

Axé para todos nós!   

Ìyá Aṣabi

Ouço muitas vezes algumas pessoas falando que nossa religião é uma seita. 

Vamos falar um pouco sobre isso?

Enfim, o que é religião?

Este conceito que selecionei é o que mais se relaciona com o que eu gostaria que refletíssemos juntos:

Religião é:

Reunião dos princípios, crenças e/ou rituais particulares a um grupo social, determinado de acordo com certos parâmetros, concebidos a partir do pensamento de uma divindade e de sua relação com o indivíduo; fé ou culto https://www.dicio.com.br/religiao/

Toda religião tem princípios... As religiões africanas e afro-brasileiras também!

Estes princípios são ensinados através dos sermões ou palestras que visam ajudar o devoto ou crente ou seguidor a melhorar o seu comportamento e consequentemente seja capaz de fazer escolhas melhores. 

Estes princípios dentro das casas de axé são transmitidos no dia a dia pelos sacerdotes ou sacerdotisas, bem como pelos mais velhos, que tem um papel fundamental na manutenção das tradições. Em uma casa de Isese lagba também são ensinados através de palestras públicas realizadas conforme calendário de cada Templo.

Toda religião tem um conjunto de crenças... As religiões africanas e afro-brasileiras também!

As crenças têm relação com a forma como cada uma delas explicam os mistérios da vida, coisas que não conseguimos entender, tais como: o que é a vida, de onde viemos, para onde vamos. Essas questões causam muita angústia para o homem e é necessário que tenhamos uma explicação que diminua essa inquietação e é este o maior papel da religião.

As religiões africanas e afro-brasileiras possuem suas crenças a respeito da origem da vida, bem como a respeito de processos da vida tais como a perda, a morte, o infortúnio e etc

Toda religião tem rituais... As religiões africanas e afro-brasileiras também!

Talvez nesse ponto alguns digam: NÃO! A minha religião não tem rituais. 

Vamos entender o que é um ritual? 

Ritual é o conjunto de práticas consagradas por tradições, costumes ou normas, que devem ser observadas de forma invariável em determinadas cerimônias.

No sentido figurado ritual é uma rotina, aquilo que habitualmente se pratica, é uma etiqueta, uma regra, um estilo usado no trato entre as pessoas.

https://www.significados.com.br/ritual/

Como vimos toda religião tem uma estrutura de realização de seus encontros, seja a missa seja o culto seja a sessão espírita seja a festa do candomblé ou no Isese lagbá, qualquer religião tem seus rituais. 

Esses rituais praticados nas religiões africanas e afro-brasileiras são realizados por uma necessidade e seguem regras rígidas dentre uma delas é sua realização sem a presença do profano exigindo abstinência de bebida, cigarro e abstinência sexual por um período.

Toda religião tem um sagrado representado por uma ou mais divindades... As religiões africanas e afro-brasileiras também!

O sagrado é aquilo que acreditamos que exista de forma imaterial e que é capaz de dar suporte para a nossa existência nos fazendo superar as dificuldades que enfrentamos na vida. 

O que temos nas religiões africanas e afro-brasileiras é uma busca pelo mágico, pelo sobrenatural, aquela varinha de condão que de fato não existe. Como muitas vezes ouvi: esta é a minha última possibilidade. Ou seja, ali é o último lugar que a pessoa cogitou ir. 

De fato, através da magia africana é possível algumas soluções, mas elas só são possíveis quando temos o engajamento da pessoa na solução através da busca das mudanças necessárias indicadas pelo oráculo de Ifá. 

Acreditamos que Eledumare, o senhor da criação, em sua imensa generosidade, criou os nossos orixás que como fonte de energia e de atributos próprios, são capazes de nos ajudar a superar, nos curar e nos melhorar. 

Não somos apenas magia, somos também filosofia, uma filosofia milenar que baliza a vida e nos ajuda a viver melhor. Filosofia que durante muito tempo foi capaz de organizar sua sociedade. Valores como honestidade, respeito, trabalho, empatia são transmitidos a partir de nossas palestras. Esse é o nosso maior tesouro. 

Informe-se sobre o nosso calendário de palestras e venha conhecer melhor nossa religião.

Axé para todos!

Ìyá Aṣabi